O medo de fogos de artifício e trovões não é “manha” nem falta de adestramento. Trata-se de uma resposta neurofisiológica ao som, conhecida como sensibilidade a ruídos ou fobia sonora, bastante estudada na medicina veterinária comportamental.
A seguir, você confere dicas baseadas em comportamento canino, neurociência e prática clínica, usadas por veterinários e especialistas em comportamento animal.
1. Entenda o gatilho: o problema não é só o barulho
Para muitos cães, o medo não está apenas no som alto, mas na imprevisibilidade, vibração e mudança brusca no ambiente. Trovões, por exemplo, também alteram pressão atmosférica e eletricidade estática — fatores que alguns cães percebem antes mesmo do barulho.
Por isso, soluções isoladas nem sempre funcionam. O controle deve ser ambiental + emocional.
2. Prepare um ambiente de contenção sensorial
Especialistas recomendam criar um local que reduza múltiplos estímulos ao mesmo tempo:
- Isolamento acústico parcial
- Iluminação baixa
- Temperatura confortável
- Superfícies macias (cobertores ajudam a absorver vibrações)
Evite locais muito abertos. Espaços menores e “fechados” transmitem mais segurança ao cérebro do cão.
3. Use a técnica de pressão profunda (Deep Pressure Therapy)
A pressão suave e constante no corpo ajuda a reduzir a liberação de cortisol (hormônio do estresse). É o mesmo princípio usado em coletes calmantes e até em terapias humanas para ansiedade.
Você pode:
- Usar coletes específicos
- Enrolar o cão com uma manta leve (sem apertar demais)
- Permitir que ele se esconda sob cobertores, se for escolha dele
Nunca force — o controle deve ser do cão.
4. Trabalhe o condicionamento emocional, não a distração
Distrair o cão funciona apenas momentaneamente. O ideal é recondicionar a resposta emocional ao som.
Em períodos sem fogos:
- Exponha o cão a sons baixos e controlados
- Associe o som a algo positivo (petisco de alto valor)
- Aumente a intensidade de forma gradual, ao longo de semanas
Essa técnica é chamada de dessensibilização sistemática associada ao contracondicionamento.
5. Atenção ao seu próprio comportamento
Cães leem linguagem corporal com extrema precisão. Respiração acelerada, tensão muscular e mudanças no tom de voz podem aumentar o medo.
A recomendação dos especialistas é:
- Postura neutra
- Voz calma e natural
- Movimentos previsíveis
Ignorar completamente também não é ideal. Presença tranquila é diferente de superproteção.
6. Suplementos e feromônios: quando fazem sentido
Alguns recursos podem ajudar como suporte, nunca como solução única:
- Feromônios sintéticos (simulam o cheiro calmante materno)
- Suplementos com triptofano, L-teanina ou alfa-casozepina
Esses métodos funcionam melhor quando combinados com manejo ambiental e treino comportamental.
Sempre consulte um veterinário antes de usar qualquer produto.
7. Casos graves exigem intervenção profissional
Quando o cão apresenta:
- Tentativas de fuga
- Automutilação
- Salivação excessiva e descontrole motor
- Medo progressivamente pior a cada evento
Estamos diante de uma fobia sonora, não apenas medo. Nesses casos, o acompanhamento com veterinário comportamentalista é essencial. Em algumas situações, o uso temporário de medicação é indicado para evitar sofrimento crônico.
Conclusão
Acalmar um cão com medo de fogos e trovões não é sobre “acostumar na marra”, mas sobre respeitar o sistema nervoso do animal. Quanto mais cedo o tutor age com informação correta, maiores são as chances de melhora real e duradoura.
Seu cachorro não precisa “aguentar”. Ele precisa de compreensão, preparo e apoio


